Escrito por Cezar Augusto BatistaO autor Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, MA, em 14 de abril de 1857 e faleceu em Buenos Aires, Argentina em 21 janeiro de 1913. Jornalista, escritor, diplomata, caricaturista e membro fundador da Academia Brasileira de Letras, Cadeira nº 04, cujo Patrono é Basílio da Gama.
Apenas por curiosidade: Artur Azevedo (1855-1908), também escritor, era seu irmão, enquanto o poeta Álvarez de Azevedo (1831-1852), pelo que se pesquisou, não era parente dos Azevedos do Maranhão. Os seus romances mais conhecidos são: O mulato (1881), Casa de pensão (1884) e este sobre o qual falaremos, lançado em 1890. Trata-se de um excelente retrato do Rio de Janeiro do século XIX, em especial das classes mais baixas, destacando-se pouco as emergentes, se é que podemos assim denominar. Nesse caso – emergente - é citada uma família que vem morar ao lado de um cortiço, onde se passa a maior parte da história, com riquezas de detalhes entristecedores, dada a nudez dos fatos descritos, e cujo patriarca, com poucos recursos financeiros, consegue o título de Barão, conquista essa não bem explicada. A autoestima do homem, agora barão, é elevada com a distinção, em se comparando com a do proprietário do cortiço, pequeno comerciante local que enriquece com muito trabalho e sovinice e vai construindo o que se transforma na propriedade alugada aos moradores simples e de pouca posse, na sua maioria imigrantes portugueses, negros e alguns poucos italianos. O comerciante e proprietário imobiliário que sempre se sentira maior que o vizinho, agora passa a ter inveja do mesmo e fica se amargurando, pensando se valeu a pena ser tão miserável e não viver a não ser para o trabalho. Era amasiado com uma mulher, que também só pensava em trabalhar e não tinham filhos, enquanto o outro constituíra uma família nos moldes tradicionais. Outro aspecto que me chamou a atenção foram certas abordagens do autor, que hoje poderiam ser enquadradas como racismo, algumas, e outras como homofobia. As festas, as bebedeiras, as amizades, as traições, as brigas, assim como a fraternidade e o auxílio mútuo entre os moradores do cortiço e mostrados no livro, para mim, representam o início das favelas ou comunidades hoje existentes na maioria das cidades brasileiras. Com uma grande e importante diferença: a não citação sobre drogas ilícitas, hoje motivos de declínio do homem, da família e, consequentemente, da sociedade. Alguns religiosos do século passado ou que ainda seguem os “Puritanos” do credo presbiteriano rigorista praticado na Grã-Bretanha no século XVI, consideram os meus livros muito fortes no sentido de luxúria, em especial os: “Sangue e Sedução”, “O desfecho, “Jack, o pequeno sedutor”, contudo “O cortiço” publicado em 1890 não fica atrás deles nesse aspecto. Há cenas explícitas de adultério, de lesbianismo, bem recheadas de sensualidade e praticadas nos campos ou nas alcovas. Nos livros clássicos ou de literatura regional, sempre se encontram termos diferentes que, normalmente, não são muito utilizados. No “O cortiço”, a princípio não prestei atenção neles, depois passaram a me despertar maior curiosidade, e cito alguns: surumbamba, dobadoura, farândola, petrópolis, martelo. Estupenda descrição, até mesmo poética, da chegada da menstruação de uma adolescente. Nunca li algo semelhante e não posso colocá-la aqui, dada a extensão do texto. E assim decorre a obra, transmitindo grande tristeza o tempo todo, e poucas alegrias, encaixando-se no contexto do naturalismo, corrente literária baseada na radicalização do realismo, com um final dentro do esperado.
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