Escrito por Maria Aparecida PereiraUma nova forma de violência silenciosa, ou melhor, ensurdecedora, ganha cada vez mais espaço: a poluição sonora causada por motociclistas que, por escolha própria, adulteram os escapamentos de seus veículos em nome de uma falsa sensação de liberdade. Para alguns pode soar como afirmação pessoal, mas para a maioria representa um ataque ao sossego público e à própria saúde da população.
É inadmissível que, moradores precisem disputar com o barulho de motos adulteradas o direito de descansar, de conversar, de viver em paz em seus próprios lares. Mais grave ainda é a sensação de impunidade que acompanha esses atos: apesar de a legislação ser clara, falta fiscalização e sobra tolerância para um problema que é tanto social quanto ambiental. O Código de Trânsito Brasileiro é explícito ao considerar grave a condução de veículos com características alteradas, como no caso dos escapamentos modificados. As penalidades incluem multa, pontos na carteira e retenção do veículo, punições que, se fossem efetivamente aplicadas, talvez já tivessem reduzido esse comportamento nocivo. No entanto, sem fiscalização constante e eficaz, a lei se torna letra morta, e a perturbação sonora segue crescendo pelas ruas. Além do incômodo evidente, há consequências mais profundas e perigosas. A exposição constante ao barulho intenso afeta a saúde auditiva, provoca estresse, distúrbios do sono e compromete a qualidade de vida. O próprio condutor, que acredita estar “se destacando”, compromete sua audição e coloca outros em risco ao chamar atenção em ambientes urbanos já sobrecarregados de ruídos. O problema, no entanto, não se limita à falta de consciência individual. Ele revela uma falha estrutural no poder público, que precisa agir com firmeza e responsabilidade. Cabe à Prefeitura, em conjunto com a Polícia Militar, não apenas aplicar as penalidades previstas em lei, mas também coibir o comércio de escapamentos adulterados, combater oficinas irregulares e promover ações de conscientização contínuas, sem abrir mão da punição quando necessário. Não se trata apenas de aplicar multas. Trata-se de restaurar o direito coletivo à paz, ao descanso e ao respeito mútuo. O silêncio, muitas vezes desvalorizado, é parte fundamental da saúde mental e do bem-estar de todos. E ele não pode continuar sendo destruído por um barulho que grita impunidade.
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